Ninguém mais duvida de que o Brasil é hoje uma das maiores potências agrícolas do planeta. Graças a agricultores competentes e investimentos em tecnologia tropical, tornamo-nos líderes globais em importantes commodities. Grãos, açúcar, café e algodão são exportados com base em cotações de Bolsas e chegam a mais de 200 países. Mas a pergunta que fica é: estamos conseguindo entender e atender as expectativas de nossos consumidores finais? Nosso único papel é vender commodities ou há outras oportunidades que não estão sendo exploradas?
Temos hoje quatro grandes vetores que puxam a demanda do agronegócio no mundo:
Produtividade: Oferta crescente de alimentos a preços acessíveis. Quase 1 bilhão de pessoas ainda passa fome no mundo. Na Ásia e na África, mais da metade da população vive em condições precárias de subsistência em pequenas propriedades no campo, sem conhecimento, tecnologia e acesso a mercados. Para esse imenso grupo, a palavra mágica é “produtividade”, obtida pelo aumento do rendimento e escala da produção doméstica, ou pela maior abertura para importações competitivas, reduzindo as barreiras que hoje impedem o comércio. Esse é o segmento em que o Brasil se posiciona muito bem desde que existe, primeiro em produtos tropicais, depois nas grandes commodities da alimentação mundial.
Qualidade comprovada: Cresce o número de países cuja preocupação central não é mais a quantidade produzida no campo, mas sim a qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos consumidores. Aqui o que interessa não é volume, mas sim sanidade comprovada, armazenagem adequada, distribuição rápida, certificação, rastreabilidade etc. Em suma, o consumidor quer ter certeza quanto à qualidade do alimento que vai comer e, para isso, a palavra mágica é “segurança da cadeia de suprimento”. A China deve ser o país em que essa preocupação é hoje mais intensa. O Brasil possui cadeias produtivas consolidadas e bem coordenadas que chegam com eficiência à mesa do consumidor doméstico. Porém, na exportação, com raras exceções, ainda não conseguimos ir além da venda de commodities básicas sem grande diferenciação.
Valor adicionado: Oferecer ao consumidor produtos confiáveis, acessíveis, saborosos, de alta qualidade, na hora certa, buscando alcançar maior segmentação e variedade de produtos, criação de marcas globais, conveniência, sabores, embalagens e logística eficiente. Países de renda média de América Latina, Leste Europeu e alguns asiáticos se encontram neste grupo. Este é o estágio em que estamos no nosso mercado interno. Mas no exterior ainda há muito por ser feito, principalmente entre o processamento e o consumidor final. Reside aí a maior oportunidade de internacionalização da cadeia de valor que o agronegócio brasileiro tem hoje.
Novas demandas: Consumidores com maior renda que vivem em países desenvolvidos, onde a dimensão preço x qualidade x variedade já foi conquistada, têm maior interesse em alimentos produzidos localmente, próximos à região de consumo, com mínimo impacto ambiental e menor uso de tecnologia – orgânicos, sem antibióticos, sem transgênicos, sem instalações fechadas. Exigências que costumam elevar o preço do produto.
Esses quatro vetores definem demandas com diferentes comportamentos e velocidades, às vezes em direções opostas. Por exemplo, enquanto o primeiro grupo busca o aumento da produtividade por meio da maior tecnificação da produção, o quarto grupo está disposto a pagar mais por alimentos produzidos com menor intensidade tecnológica. Cabe às empresas entender esse quadro e buscar satisfazer seus diferentes grupos de clientes e consumidores. Cabe aos países entender as diferentes dimensões da demanda global por alimentos e gerar as políticas e as regulações adequadas.
Claramente cumprimos um papel relevante no suprimento global de commodities. Mas será que estamos nos organizando adequadamente para aproveitar as fantásticas oportunidades que o mundo nos oferece?
Incrivel, adorei esse artigo, esta muito bem escrito parabéns.
Belo post!
Daniel, que bom que gostou. Fique ligado que sempre estamos trazendo postagens legais 🙂